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A Batalha de Raseinai

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A Batalha de Raseinai  Empty A Batalha de Raseinai

Mensagem por Winston Churchill Ter Jul 16, 2013 10:48 am

Por Friedrich Paulus

Enfrentando os poderosos tanques KV soviéticos, até então desconhecidos, os alemães da 6ª Divisão Panzer experimentam os rigores de um combate feroz, na primeira batalha de blindados da Barbarossa; e tem um relance sobre o tipo de guerra sem quartel que seria travado no Leste.

A historiografia em geral mostra que o período inicial da Barbarossa foi marcado por grandes sucessos militares. A Werhmacht iniciou a campanha em 22 de junho de 1941 esmagando, capturando e desorganizando as unidades do Exército Vermelho que se batiam em seu caminho. Com uma Força Aérea inexperiente, pulverizada no primeiro dia de campanha, e com o despreparo do Exército Soviético para travar uma guerra moderna, os alemães tiveram suas tarefas facilitadas no início da campanha. Porém, esses sucessos iniciais só foram alcançados em meio a muita coragem e sangue frio.

O Grupo de Exércitos Norte comandado por Ritter von Leeb varreu os Estados Bálticos com rapidez. Sua ponta de lança, o 4º Grupo Panzer, era comandado pelo velho cavalariano Erich Hoeppner que tinha duas tenazes, o XLI e o LVI Corpos Panzers. O LVI Corpo Panzer de Manstein encontrou pouca resistência tomando as pontes do rio Dvina sem dificuldades. Já para o XLI Corpo Panzer, a tarefa foi um pouco mais complicada, já que este encontrou resistência pesada na área de Siauliai. A resposta soviética veio pela tarde com o General Kuznetsov, ordenando que o 12º Corpo Mecanizado se juntasse com o 3º Corpo Mecanizado e ocupasse posições para o contra ataque. A 23ª e 28ª Divisões de Tanques do 12º Corpo se juntou a 2º Divisão de Tanques do 3º Corpo Mecanizado para um ataque contra os flancos das forças alemãs na região de Raseinai.

No dia 23, foi ordenado ao 12º Corpo Mecanizado que avançasse a sudeste e o 3º Corpo Mecanizado atacasse rumo a noroeste. Seu alvo era o LVI Corpo Panzer que estava totalmente espalhado. A 1º Divisão Panzer se batia na cidade de Tauroggen onde os russos transformaram cada prédio em uma fortaleza. Pela tarde do dia 23, esta divisão acabou por conquistar uma importante ponte rodoviária sobre a cidade de Tytuvenai. A 6º Divisão Panzer, depois de algumas escaramuças no primeiro dia, rumou para leste no intuito de prevenir que os russos tomassem posições na elevada região ao sul de Raseinai e atingissem a importante região do rio Dubyssa onde duas pontes rodoviárias, entre as cidades de Betygala e Kybaryteliai, eram atribuídas a divisão. Os contra-ataques soviéticos começaram a se materializar no final do dia 23 com a aproximação de elementos avançados da 2º Divisão de Tanques em Raseinai e de unidades do 12º Corpo Mecanizado na área de Kaltinenay.

A 6ª Divisão Panzer avançava a toda velocidade por todas as estradas disponíveis. Divididos em dois grupos de combate (Kampfgruppe von Seckendorff e Raus), seus tanques e artilharia avançavam implacavelmente, prontos para esmagar qualquer oposição. Porém, de súbito, foram atacados por artilharia e metralhadoras. Destacamentos avançados confirmaram que os russos já ocupavam a alta região ao sul de Raseinai. Eram soldados do 2º Regimento Motorizado de Rifles, da 2º Divisão de Tanques, que depois de uma marcha de aproximação de 96 quilômetros, se entrincheiraram no solo de tal maneira que ficaram diretamente na rota do Kampfgruppe von Seckendorff, distribuídos de modo a constituir um baluarte, em frente à cidade.

Os alemães se preparam
Após um breve reconhecimento da situação, todo grupo de von Seckendorff entrou em ação, com o 114º Regimento de Infantaria Motorizada, adjunto a um batalhão de Panzers, atacando os russos entrincheirados. O terreno aberto, a falta de munição para a artilharia e a tenaz resistência dos soviéticos dificultou o ataque, obrigando os panzers a buscar um caminho em meio a florestas e pântanos no intuito de pegar o inimigo pelos flancos e retaguarda.

Depois de penetrar nas fracas defesas russas, os panzers de von Seckendorff se juntaram com o Kampfgruppe Raus na cidade de Raseinai e depois de limpá-la, acabou por se apoderar das duaspontes sobre o Dubyssa que estavam a 6 quilômetros ao norte, consolidando duas cabeças de ponte. Porém, vôos de reconhecimento da Luftwaffe apontavam para uma forte concentração de forças blindadas soviéticas que se aproximavam, provenientes da área de Jonava-Kadainiai.

Os alemães observaram que esta concentração de tanques, em torno de 200, depois de atingir a localidade de Kroki, se dividiu em duas colunas, correndo diretamente para as duas pontes em poder da 6ª Divisão Panzer, em Betygala e Kybaryteliai, ameaçando a cabeça de ponte da divisão no rio Dubyssa. O General Landgraf, comandante da divisão, tentou reforçar os dois Kampfgruppen o mais rápido possível, porém o resto da divisão estava congestionada na cidade de Erzvilkas, onde o avanço da 6ª Panzer estava emaranhado com a 269º Divisão de Infantaria e elementos da 1º Divisão Panzer. Por isso, além dos dois Kampfgruppen não terem sidos reforçados, também não tiveram suporte nos flancos. O General Landgraf estava preocupado com flanco direito da ponta em Betygala, onde a 269º Divisão de Infantaria deveria estar. Assim, as pontas avançadas da divisão, que era o 4º Regimento Motorizado com apoio de alguns panzers na cabeça de ponte ao norte, em Kybaryteliai e o 6º Batalhão de Motociclistas mais ao sul em Betygala, deveriam agüentar o choque inicial contra as forças soviéticas.

Surgem os KVs russos
O ataque russo começou nas primeiras horas do dia 24. A artilharia martelou as posições do Kampfgruppen von Seckendorff, que ocupava a cabeça de ponte mais ao sul. Em resposta, a artilharia alemã abriu fogo contra a massa blindada que se aproximava. Depois de 20 minutos de um silêncio mortal, o crepitar de fuzis e metralhadoras se fez ouvir. A massa blindada em questão, que vinha do leste, era a 2º Divisão de Tanques do General Solyankin que tinha como objetivos recapturar Raseinai e expulsar a 6ª Panzer da região. Os soldados de von Seckendorff ficaram em uma situação precária, pois além de estarem em desvantagem numérica, foram atacados por tanques super-pesados modelo KV-1 e KV-2. Estes tanques – de 43 e 54 toneladas e armamento de 75mm e 152mm respectivamente, com blindagens de 85mm na parte frontal capaz de suportar o disparo de uma arma anti-tanque de 75mm – eram desconhecidos pelos alemães e sua aparição causou um tremendo choque nas tropas. Perto de 50 destes tanques, perfuraram as posições do 6º Batalhão de Motociclistas.


O ataque foi devastador. Os KVs rolavam com toda força, esmagando não só as motocicletas mais também os feridos, forçando o batalhão a retrair para a margem oeste do Dubyssa. Mais tarde foram descobertas atrocidades cometidas pelos russos contra os feridos alemães. Todos foram mortos e mutilados cruelmente, com os olhos e genitais arrancados. Esta era a primeira experiência da divisão com as atrocidades da frente leste. E não seria a última. Depois retrair para a margem oeste e agora tendo a cobertura da força principal do Kampfgruppen von Seckendorff, o batalhão de motociclistas se preparou para uma forte resistência. Os tanques soviéticos, assim que atravessaram o rio rugiram em direção dos alemães. Sem se importunar com a chuva de projéteis, esmagaram uma barricada na estrada e viraram em direção as posições de artilharia. O contra-ataque alemão não tardou. Cerca de 100 tanques do 11º Regimento Panzer do Coronel Koll, um terço destes modelos PzKw IV, entraram em ação. Alguns destes tanques corajosamente enfrentaram os russos de frente. A maioria, entretanto, atacou pelos flancos. Os panzers alemães combatiam os colossos russos por três lados diferentes, mas falharam e as baixas começaram a aumentar, obrigando o Regimento Panzer a bater em retirada a fim de evitar sua destruição. Para tornar as coisas piores, o 114º Regimento Motorizado – que defendia as florestas a oeste do Dubyssa contra a infantaria soviética que vinha no encalço dos tanques russos – acabou sofrendo pesadas baixas, principalmente pelo fogo de artilharia.

Nada detém os russos
Era evidente para Coronel von Seckendorff que suas armas não eram suficientes para destruir os enormes tanques russos. O Capitão Quentin, comandante de batalhão, queria retrair suas forças aos poucos. Ele mesmo empunhou uma metralhadora e defendeu as posições do batalhão contra repetidos ataques de infantaria russa. Apesar da surpresa causada pelos KVs e do retraimento das forças alemãs, os soviéticos foram incapazes de forçar a passagem de seus tanques rumo a Raseinai.

Novos tanques russos apareceram vindos do leste, de onde os KVs rolavam despreocupadamente a despeito do fogo dos panzers e da artilharia. A única solução tática encontrada pelo Capitão Quentin foi deixar que o segundo grupo de blindados russos atingissem sua linha defensiva e permitir a fuga de suas forças pelos flancos, no intuito de tentarem estabelecer contato com 114º Regimento Motorizado, se ele ainda estivesse lá.

Os soldados se escondiam nas plantações, apenas observando os monstros avançarem. Um destes avistou um PzKw 35t que estava preso em um alagadiço e o destruiu. O mesmo fim teve um howtizer que não conseguiu escapar a tempo. Quando os KVs se aproximaram, sua guarnição abriu fogo com mira aberta, sem importunar os tanques russos, o que obrigou sua guarnição a fugir antes de a arma ser destruída.

O Coronel von Seckendorff esteve desde o inicio da ação, no quartel general da divisão implorando por ajuda. Entretanto, o General Landgraf não possuía mais nada para enviar depois que seus panzer se tornaram ineficientes contra a ameaça. Logo se iniciou uma crise, o que tornou necessária a intervenção do comandante do Corpo Panzer, o General Hans-Georg Reinhardt, que prometeu a anexação imediata de várias baterias antiaéreas de 88mm que estavam em serviço nas cercanias de Tauroggen. Neste ponto, todos supunham que só os poderosos 88mm poderiam destruir os mamutes russos.

Finalmente os KVs são detidos
O contra-ataque empreendido pelo 11º Regimento Panzer não causou danos sérios aos KVs mas os forçou a parar e se espalharem para repelir a ameaça, causando uma queda no impulso do ataque. Apesar de todo o seu poder, os KVs ficavam muito expostos quando isolados dos outros tanques e da infantaria. Por isso começaram a vacilar. O Coronel von Seckendorff aproveitou esse momento para reagrupar suas tropas, inclusive o destacamento do Capitão Quentin em torno da cota 106, reunindo todos os escalões para a defesa anti-tanque. Nesta fase da batalha os alemães começaram a usar novas táticas para destruir os monstros de aço. Uma delas era atirar nas lagartas para imobilizá-los e depois destruí-los com artilharia. O Tenente Eckhardt, da 6º Companhia do Batalhão do Capitão Quentin, eliminou um destes tanques com uma carga de cinco minas anti-tanque, um método de combate nada convencional e que colocava em risco a vida de muitos soldados. Outra forma era o tiro a queima roupa de uma bateria de 100mm, que conseguiu também dar cabo e alguns tanques.


Essas ações deixaram os tanques russos ainda mais cautelosos. No começo da tarde, eles se reuniram em uma região de florestas e iniciaram um ataque decisivo contra a cota 106, com os KVs atuando como ponta da formação blindada. Porém, já haviam perdido o ímpeto inicial. Muitos estavam sem combustível e as munições já estavam no final. Com a chegada de algumas baterias de 88mm que se juntaram às peças de 100mm alemãs, os russos começaram a ser repelidos. Em posições bem camufladas, as baterias começaram a disparar contra os super-tanques, obrigando-os a suspender o ataque e darem meia volta. Isso facilitou a vida dos panzers que começaram a acertar os russos pela retaguarda. Agora os soviéticos lutavam pela sua sobrevivência. Depois de serem atacados pela retaguarda, pelos panzer da 6ª Divisão e pelos flancos por unidades recém- chegadas da 1ª Divisão Panzer vindas do norte, os russos foram repelidos.

Os alemães foram severamente testados nessa batalha. O surgimento dos tanques pesados KVs causou choque nas fileiras alemãs. Eles não possuíam um engenho com armamento e força suficientes para se equipararem com o tanque soviético. Tanto o KV-1 quanto o KV-2 possuíam uma blindagem tão espessa que eram invulneráveis á maioria das armas anti-tanques existentes no início da Barbarossa. Apesar de pesados, imprimiam uma boa velocidade, chegando a atingir 35 km/h na estrada. Sua combinação de mobilidade, blindagem espessa e poder de fogo o tornava o tanque mais poderoso existente até então. Porém, seus ataques eram mal coordenados e suas guarnições mal treinadas. Em Raseinai eles tiveram a oportunidade de infligir pesadas baixas aos alemães e alcançarem seus objetivos mais foram incapazes devido à falta de coordenação entre os tanques e a infantaria. Poucos tanques possuíam rádio e isso acarretava a falta de comando e controle dos russos em combate.

O milagre de Raseinai
A 6º Divisão Panzer combateu bravamente os russos a despeito de seus tanques serem inferiores. Quando iniciou a campanha, alinhava 223 carros de combates, mas a grande maioria era de obsoletos tanques tchecos Skoda de 35 toneladas. Estes possuíam algumas vantagens quando da operação no terreno russo, como seu peso leve, sua boa manobrabilidade e a habilidade de atravessar pequenas pontes com capacidade de no máximo 8,5 toneladas. Mas possuíam uma blindagem frontal de apenas 25mm. Alguns autores não tem rebuços em denominar de “milagre” o fato de essa divisão ter chegado às portas de Leningrado e Moscou a despeito da grande superioridade numérica dos russos. E isso se deveu principalmente a liderança combinada com excelente treinamento e moral.

A batalha de Raseinai foi o primeiro combate de tanques da campanha russa. O desenrolar dos combates mostraram a dificuldade de lutar em um terreno extremamente difícil e contra um inimigo inteligente e decido. As divisões panzers alemãs lutaram na areia, nos pântanos, nas florestas, cruzando rios e caminhos intransponíveis até então. A 6ª Divisão Panzer cobriu 800 quilômetros, desde o Báltico até os portões de Leningrado, batendo-se na Linha Stálin e nos rios Dvina e Luga. E a guerra estava apenas no início.

Fontes:
- Raus, Erhard; Panzer Operations; Da Capo Press, 2003.
- Ritgen, Helmut; The 6th Panzer Division 1937-1945; Osprey.
- Zaloga, Steven; Grandsen, James; Soviet Heavy Tanks; Osprey.
- Bean, Tim; Fowler, Will; Russian Tanks of World War II.
- Rondiére, Pierre; Stálin e a invasão da Rússia; Coleção Blitzkrieg, 1967.
- Carell, Paul; Operação Barbarossa; Livraria Bertrand, 1963.
- Kirchubel, Robert; Operation Barbarossa Army Group North; Osprey.
- Kurowski, Franz; Panzer Aces; Stackpole Military.
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Mensagem por Friedrich Paulus Ter Jul 16, 2013 9:15 pm

e os 88mm salvando novamente!
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